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O impacto do PIX nos departamentos de contas a receber e na gestão da inadimplência

O Brasil possui um dos sistemas bancários mais modernos e sólidos do mundo, e seu desenvolvimento teve como ponto fundamental a criação da Superintendência da Moeda e Crédito, SUMOC, há 79 anos. De lá pra cá foram diversas iniciativas, algumas delas curiosamente batizaram atividades realizadas até hoje, a exemplo das trocas de arquivos CNAB, para registro de boletos de pagamento. A denominação do arquivo tem origem na criação do Centro Nacional de Automação Bancária, CNAB, em 1971, para apoiar os esforços tecnológicos do setor e sustentar os avanços do sistema financeiro.

De inovações e curiosidades o sistema bancário nacional chega aos dias atuais com um esforço contínuo para garantir sua evolução e eficiência. O exemplo mais recente deste esforço é o lançamento do sistema de pagamento eletrônico, PIX, feito pelo Banco Central do Brasil, que está previsto para entrar em vigor no mercado em novembro. O PIX prevê importantes benefícios, como o ganho de velocidade nas transferências financeiras que poderão ser efetuadas 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive em feriados.

Para a gestão do contas a receber e da inadimplência de clientes com pagamentos em atraso, o PIX será um grande avanço. Atualmente, os credores que lidam com clientes devedores usam os boletos de cobrança como meio de pagamento principal. Pagamentos realizados por depósitos ou transferências são menos utilizados atualmente, pois nem todos os clientes realizam depósitos identificados ou seguem as orientações para transferências, gerando dificuldades para a identificação e conciliação de pagamentos pelos credores.

As transferências eletrônicas de dinheiro atualmente podem ser feitas por DOC, documento de ordem de crédito, ou TED, transferência eletrônica disponível. No sistema de pagamentos brasileiro, SPB, o DOC é processado no SILOC, Sistema de Liquidação das Transferências de Ordens de Crédito, câmara de compensação para as instituições detentoras de conta reserva ou liquidação autorizadas pelo Banco Central. Já para a TED, o processamento ocorre na câmara de compensação SITRAF, Sistema de Transferência de Fundos. São diferentes câmaras de compensação, com diferentes características e diferentes arquiteturas de integração para comunicação com os agentes de meios de pagamento. São sistemas antigos e pouco alinhados com o atual desenvolvimento tecnológico dos participantes do mercado financeiro, tendo como consequência os elevados custos e a morosidade no processamento e compensação de pagamentos. Para dar a dimensão de tempo, o TED, mais avançado do que o DOC, foi lançado pelo Banco Central em 2002, há 18 anos.

O PIX será mais um meio de pagamento e ajudará credores na relação com os clientes em compromissos à vencer ou vencidos e vai substituir em grande parte os boletos de pagamento, muito utilizados atualmente.

E qual será o efeito prático do novo sistema para empresas e clientes? O pagamento será instantâneo, levará 10 segundos para ser processado, e dará mais agilidade e eficiência no processo de cobrança. Assim que o cliente fizer o pagamento, a empresa conseguirá identificá-lo em tempo real e, nos casos de clientes com atrasos nos pagamentos, terá a possibilidade de retirar rapidamente a restrição cadastral do sistema, inibir a cobrança automática e evitar os envios indesejados de comunicação, estabelecendo um relacionamento mais positivo com o cliente no momento em que ele está se recuperando da inadimplência.

Além disso, há situações atualmente em que os boletos são usados por clientes como ferramenta de barganha. Não é raro encontrar clientes devedores que negociam um determinado valor em um feirão de negociação de dívidas e, na sequência, com o boleto de pagamento em mãos, entram em contato com a central de atendimento da empresa para tentar negociar um desconto adicional, além daquele conquistado no ato da negociação. Com o pagamento instantâneo, isso não será mais possível, reduzindo potenciais atritos durante todo o processo.

O PIX também deve impactar o comportamento dos clientes. É provável que eles fiquem mais exigentes ao realizar o pagamento via PIX, pois devem demandar celeridade do credor nas providências pós pagamento, podendo sensibilizar os índices de reclamações nos órgãos e plataformas de defesa do consumidor por lentidão no processo. O desafio do credor será se adaptar rapidamente ao PIX e contar com sistemas de gestão de contas a receber abrangentes que caminham na mesma velocidade das inovações no mercado financeiro.

A expectativa, portanto, é positiva e o PIX deve trazer benefícios a todos os agentes econômicos. O mercado bancário brasileiro segue seu processo de evolução e demonstra que está atento para promover as mudanças estruturais necessárias para atender os novos modelos de negócios e hábitos contemporâneos dos usuários do sistema.

 

Por Pedro Bono

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