A pandemia vai gerar crise no departamento de contas a receber. No artigo publicado na Istoé dinheiro, nosso CEO, Pedro Bono, aborda o impacto da inadimplência nas empresas.
Acesse o artigo original da Revista Istoé dinheiro aqui
O coronavírus tem causado grande ansiedade, medo e pouca racionalidade. Os gestores precisam lidar com os impactos financeiros nas empresas de forma pragmática e objetiva. Não sabemos qual será o comportamento das pessoas e da economia brasileira nos próximos meses e qualquer comparação com outras economias é exercício de ficção.
Vamos falar sobre a inadimplência e o impacto da crise no departamento de contas a receber das empresas. Haverá um impacto negativo no caixa das empresas por atrasos nos pagamentos de clientes que tende a afetar o capital de giro e o resultado do negócio como um todo, refletindo no lucro antes do pagamento de juros e tributos. No cenário de necessidade adicional de capital de giro, o recurso virá dos acionistas ou de credores externos. Se a opção for por capital de credores externos, aumentará o pagamento de juros e, por consequência, o risco financeiro do negócio.
Temos observado as ações de retenção da contaminação da Covid-19 no País, e podemos aplicar o mesmo racional no universo da gestão de contas a receber, para fins didáticos.
Está havendo um rápido crescimento no número de infectados e especialistas apresentam graficamente as distribuições de probabilidade de contágio, com curtoses diferentes. Uma delas apresenta uma distribuição normal leptocúrtica, em que a contaminação das pessoas ocorre em alta velocidade, mas por um período de tempo mais curto. A segunda distribuição apresentada é uma platicúrtica, mais achatada, derivada de uma menor velocidade de contágio devido a medidas de retenção, que tem como consequência o maior tempo de duração do ciclo de contágio.
A estratégia de menor impacto é a que leva ao achatamento da distribuição da disseminação do vírus, com o objetivo de tornar a contaminação mais lenta e suavizar os atendimentos dos infectados na rede de saúde, evitando superlotação e falta de atendimento a quem necessita.
Os atrasos de pagamentos podem ter comportamento semelhante à transmissão do vírus e o impacto no caixa das empresas deve ser alto, rápido e negativo, determinante para a não sobrevivência de muitas delas.
Portanto, temos que transformar o forte impacto negativo em um impacto moderado, que terá duração maior. É mais fácil gerenciar efeitos suaves do que efeitos abruptos em finanças corporativas, por isso conseguimos estabelecer um paralelo com o racional dos agentes de saúde para lidar com a pandemia.
Se os atrasos nos pagamentos seguirem uma distribuição normal leptocúrtica será ruim para as empresas, pois significa que muitos clientes atrasarão pagamentos de uma só vez, em um curto período. Isso poderá ocorrer se os gestores financeiros não tomarem medidas para impedir que os atrasos ocorram de forma conjunta. A curva mais plana e mais achatada da distribuição de probabilidade é preferível e deve ser a estratégia dos gestores neste momento. Para tanto, o time financeiro deverá estar profundamente engajado no desafio de superar o momento difícil.
As empresas não irão sentir os efeitos de forma linear. É importante conseguir dosar os esforços em cada realidade. Avalie como seu negócio impacta o cliente (bens e serviços essenciais tendem a sofrer menor impacto) e tenha em mente que a velocidade de implementação das ações é fundamental. Não há tempo para ficar ponderando cenários imponderáveis. É preciso agir e antecipar eventos de atrasos.